Senegal - as roupas, os panos

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Senegal - as roupas, os panos

Os senegaleses dão muita importância para a vestimenta. Não são apenas peças para proteger o corpo do sol escaldante,  do vento ou da areia. Crianças ainda vestem roupas comuns como calça comprida e camiseta, ainda que tenham sido embaladas quando bebês nos tecidos coloridos. E também os homens, que alternam bubus,  conjunto de bata larga e calça,  com calças jeans e camiseta ou camisa - talvez só durante o intervalo para lavar o traje.  Mas, a não ser nas grandes cidades como Dacar ou Thiés, quase não se vêem mulheres trajando vestes diferentes dos lindos vestidos longos com pano de cabeça do mesmo tecido. 


 Há modelos femininos mais justos no corpo, com recortes decorados com enviés e fechados com ziper. Mas mulheres casadas parecem preferir modelos mais soltos, com ombros à mostra, uma ode à liberdade corporal. Embora a população do Senegal seja predominantemente muçulmana - nos vilarejos, mais ainda -, durante toda a viagem vi apenas uma mulher, aliás uma menina-moça casada,  com véu e roupa que só deixava à mostra o rosto.  As outras, não. Se a saia é fechada pela frente apenas com sobreposição, usam toda a sensualidade em danças para os maridos erguendo e abaixando o tecido em movimentos insinuantes para deixar as pernas e roupas íntimas à mostra. E as roupas íntimas podem ser um mínimo saiote enfeitado e um shortinho agarrado em cores berrantes.  Como sei? Uma das alunas me mostrou às gargalhadas e perguntou se eu não dançava assim para o meu marido. Quando fico sem graça, fotografo. Ela nem ligou e até posou para a foto, que não mostro aqui.  Imagino que como cada homem tem até quatro mulheres elas precisam usar de muitos artifícios para se destacar na competição e a roupa é um poderoso instrumento de sedução. Sim, há competição entre elas, fiquei sabendo. 


Os homens também são vaidosos. E a qualidade da roupa - tipo de costura e de tecido, claro, dependem da condição social. Alguns usam o mesmo bubu durante três ou quatro dias, mas os mais vaidosos trocam a cada dois dias e vestem conjuntos bonitos, bem passados, às vezes de linho ou outro tecido bom, com bordados ou barrados decorativos. Os mais simples podem ser comprados prontos, às vezes costurados com pouco capricho - nos arremates, no tamanho do ponto, no corte. Muitos, porém, compram o tecido e mandam costurar no alfaiate. Era o caso do meu tradutor e do assessor de imprensa que nos acompanhou. Estavam sempre impecavelmente vestidos. A roupa não tem relação com a religião, é apenas a moda senegalesa que todos amam seguir, mas o gorro com pompom ou alguns tipos de decotes podem diferenciar confrarias do islamismo. 


Há muitos costureiros espalhados pelos vilarejos. Vi mulheres também, mas há mais homens e até meninos pilotando a máquina de costura e o ferro de passar aquecido com brasas. Homens usam também tecidos decorados, mas as mulheres se destacam entre o colorido dos tecidos estampados ou, quando lisos, bordados. Uma ou outra usa turbante de cor diferente da do vestido. Isto acontece mais quando o lenço é de um tecido especial como renda com brilho ou voal,  mas geralmente é feito do mesmo tecido que o vestido. E, se você só conhece dois ou três jeitos de amarrar um pano na cabeça, iria se maravilhar ao ver a diversidade de formas e laços. Quanto menos tímido o laço, mais bonito. Alguns são verdadeiras esculturas em cabeças de rainhas.



As lojas de tecidos são fartas. Um dia a estamparia africana já teve mais simbologias e foi feita com barro e técnica de batik - que impermeabiliza partes do tecido para que a tinta só tinja as áreas escolhidas. Hoje estes tecidos são mais raros e caros. Os tecidos mais comuns, encontrados nas lojas populares, são geralmente importados de países europeus ou Índia (China, talvez) com estampas que imitam o batik. Estes tecidos mais baratos são os usados na maioria dos vestidos que se vêem, mas também para servir de lençol, de cortina ou para amarrar bebês nas costas. Suas estampas, figurativas ou geométrica, são bonitas, grandes, em cores às vezes berrantes e combinações inusitadas. Nas lojas também há tecidos como lese de algodão, tules e organzas bordados e, embora estes tecidos mais caros sejam destinados a vestidos de casamento e festas, não é raro encontrar meninas-moças com vestidos festivos, com muito brilho e cores fortes, em dias da semana, em casa, sem nenhum motivo especial - não que eu tenha sabido. 


Parece que as mulheres seguem à risca o desejo de estar bonitas seja onde for, com ou sem motivo. O motivo é estar viva, andar pela feira, carregar balde de água na cabeça, socar milhete no pilão ou simplesmente para dar um pouco de colorido àquela planície semi-árida onde as casas, as cercas, a areia fina e a vegetação na maior parte do ano parecem ter tudo a mesma cor marrom de fogo.

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